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"O que quero é acender uma faísca na mente daqueles que estão à deriva, sem saber qual caminho estão tomando e, se esse caminho, renderá alguma coisa, porém deixa o novo acontecer"

(fernando ferreira) 

Política

Alberto Tosi Rodrigues

I. Resolver conflitos. II. O uso da força. III. Violento, mas legítimo. IV. Ciência política. V. Indicações de leitura. VI. Referências bibliográficas.

Resolver conflitos.

Não tem escapatória, não adianta cara feia.

Já foi decretado há muitos anos, e o decreto vale hoje mais do que nunca: “o homem é um animal político”, escreveu Aristóteles.

Desde então, tentaram muitas vezes, mas não conseguiram arranjar outro modo melhor de resolver as disputas de interesse geral. Se está em jogo alguma coisa sobre a qual não existe concordância de todos, podemos nos engalfinhar, estapear, arrebentar, bombardear, enfim, podemos até nos matar. E frequentemente nos matamos mesmo. Mas sempre que temos o bom senso de decidir que vamos resolver uma disputa sem nos matarmos uns aos outros, recorremos à política.

Claro que cada tempo, cada lugar, cada grupo, cada etnia, cada classe, cada povo e até mesmo cada pessoa vê a política por seu próprio prisma. Ela pode aparecer como algo próximo ou distante de nós, algo que acreditamos não dizer respeito a nossa vida ou algo que nos toca emocionalmente.

Para quem viveu 1940 numa pequena cidade do interior do Brasil, na condição de imigrante italiano, como meu avô, a política podia bem ser definida como a visita do delegado de polícia, que um dia inspecionou a casa e, para não sair de mãos abanando, confiscou o velho rádio de ondas longas. Afinal, o aparelho (que na verdade mal sintonizava a rádio local) poderia ser um perigoso meio de comunicação com o inimigo de guerra no além-mar. Para quem viveu 1963 na condição de uma respeitável senhora de classe média, abastada e católica, a política talvez pudesse ser melhor definida como a luta contra o perigo comunista que ameaçava apossar-se do Brasil, ou então, se fosse o membro de uma liga camponesa, a luta por “reformas de base” que diminuíssem as desigualdades sociais. Para quem viveu 1984, a política podia por certo ser definida como um grito emocionado, rasgado, que a plenos pulmões exigia eleições diretas para presidente da República. Não para depois, mas “já!” Para quem viveu 1992, a política podia ser definida como a indignação estampada num rosto pintado para a “guerra cívica”, vista como a revolta intransigente de estudantes muito jovens contra aqueles poderosos que roubaram e mentiram. E que todos queriam “fora!”

É estranho pensar assim, porque apesar dessas múltiplas apresentações possíveis, e de infinitas outras, política é sempre a mesma coisa. E os animais políticos são sempre os mesmos, isto é, nós todos. É mais ou menos como acontece na relação entre medicamento de marca e medicamento genérico. Um remédio pode ter várias marcas e apresentações diferentes, mas o que o distingue dos demais é seu princípio ativo.

A política tem muitas finalidades, muitos objetivos possíveis, na verdade tem tantos quantos forem aqueles que a praticam. O que faz crer, aliás, que os fins são dos praticantes e não da política, ela própria. Pode-se ter como fim a proteção dos cidadãos contra estrangeiros em momentos de guerra, a realização de reformas econômicas e sociais, a repressão de comportamentos desviantes, a mudança nos mecanismos de escolha de representantes, a punição de corruptos, e muitos, muitos outros.

Mas se você quiser entender o que, afinal, é a política, isso não é o mais importante.

O importante é o princípio ativo da política. É saber que a política é sempre o modo pelo qual chega-se a decidir algo que não é particular, mas que diz respeito a toda uma coletividade, algo que é público. Pois é certo que decidiu-se, de algum modo, que os italianos no Brasil deviam ser vigiados durante a guerra, que as reformas de base não seriam feitas, que os comunistas seriam reprimidos, que as eleições diretas não seriam para “já” e que o governante ladrão cairia fora.

Não é difícil imaginar, para quem se lembra de algum dos momentos citados acima, que as decisões foram tomadas ao final de uma disputa. As disputas geralmente têm vencedores e perdedores. Nas disputas, como se costuma dizer, “quem pode mais chora menos”.

Pergunta-se então: quem é aquele que “pode” mais? Quem é aquele que é mais capaz do que os outros de fazer com que os seus objetivos prevaleçam na disputa? Quem pode fazer com que as suas próprias finalidades, o seu próprio prisma de ver a política seja aceito por todos ou pelo menos pela maioria? Quem é capaz de transformar o seu ponto de vista numa decisão que valha para todos?

Ora, você sabe, é quem tem “poder”.

Mas esse poder, por sua vez, não dá numa árvore que se possa plantar em casa, nem a árvore dá uma frutinha que se pode congelar no freezer. Poder a gente conquista, e ainda assim só para fazer algumas coisas e não para outras. Quem “pode” não pode tudo. E, além do mais, assim como se ganha se perde. Se eu quero ter poder para fazer uma certa coisa, eu preciso não apenas conquistá-lo mas também conservá-lo para continuar fazendo.

Eu posso ser o presidente (no caso ficaria melhor “a presidente”) do fã clube do Fábio Jr. e com isso ter o poder de ficar com as toalhinhas autografadas que ele usa para enxugar o suor e depois joga para a platéia, e que as centenas de membros do fã clube coletaram no local do show. Mas se eu não guardar bem esse precioso troféu e as toalhinhas sumirem, é provável que na próxima escolha da diretoria do fã clube eu perca o cargo. Eu posso também me eleger vereador na minha cidade e com isso conquistar o poder de propor leis municipais, mas preciso renovar meu mandato a cada eleição se quiser continuar exercendo este poder. Para isso preciso entrar em disputa com outros que querem ter o mesmo poder que eu.

Por isso a política é geralmente descrita como a atividade que diz respeito à luta pelo poder, dentro de uma determinada associação de pessoas.

Não que o poder se concentre exclusivamente ali, mas é inegável que em sociedades complexas e organizadas como as que vivemos hoje em dia, a maior fatia de poder encontra-se nas mãos daqueles que ocupam o governo. Pois é do governo que emanam as decisões que são obrigatórias para todos, as decisões que somos obrigados a cumprir sob pena de sofrermos punições pela nossa eventual desobediência. No fã clube não há propriamente política, no estado há. No fã clube pode haver uma disputa pelo poder de ser o guardião das toalhinhas, ele pode até ter um estatuto que estabeleça como as toalhinhas devem ser guardadas, mas o fato é que ninguém pode me obrigar a fazer nada, porque se eu me cansar eu saio desse clubinho e ponto final. Já o governo do meu país, que é um Estado nacional, do qual eu faço parte não por escolha mas por nascimento, esse pode me obrigar sim.

Ora, mas o que me obriga? Que coisa é essa que é capaz de me fazer agir como eu não quero ou, pelo menos, agir de um modo que eu não agiria se não fosse obrigado?

A resposta é: a força. Ou, mais especificamente, quem me obriga é quem pode exercer violência sobre mim. Pode até ser que eu não seja alvo de violência física propriamente dita, mas se eu sei que esta possibilidade existe, é provável que eu aja conforme determinaram, mesmo contra minha própria vontade. Afinal, “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.



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